
A ROSA DO DESERTO
É noite no deserto de areias abissais...
O calor descansa no poente
E a madrugada despeja mortais
Ventos à jaima do andarilho silente.
Fleumáticas estrelas vestem o manto
Que ilumina o Saara escaldante,
Enquanto o Tuareg de encanto
De olhos azuis vagueia distante.
No deserto da solidão,
As dunas vigiam a miragem
Irrevelada. No desassossego de seu coração,
Vagueia em busca da rosa sem rosto e sem imagem.
Entre o frio da noite e o calor do dia
Repousa a rosa meditativa.
Rosa plenificada de magia
Que dos perfumes de amor se esquiva.
Rosa mística de estação indecifrável
Voluptuosamente esculpida no cenário,
É a rosa azul inalcançável
Entornando poesia sob o solário.
O Tuareg segue o perfume
Que coroa o ermo calado,
E encontra a flor sob o lume
Ardendo de amor extasiado.
Debruçada em apocalípticos beirais
A rosa desmaia ao açoite da brisa,
Enquanto pétalas insinuam-se em celestiais
E recônditas emoções não despertados na sacerdotisa.
Antes que a lua extingua seu brilho
A rosa foge do mistério do amor,
Mas sem sorte é capturada pelo andarilho,
Docemente aprisionada em lábios de licor.
Sob o luar argênteo, o oásis se afigura
Em mistérios a descortinar a paixão
Que se converte em esponsal jura
E momentos de inebriante sedução.
Imagem: fotografia do quadro de Salvador Dali